quinta-feira, junho 02, 2005

Um olhar da gestão humana sob o contexto político-económico nacional

À primeira vista, os mais distraídos não encontrarão uma relação directa., mas tem tudo a ver. As medidas políticas com influência e reflexos na economia nacional servem os cidadãos, os eleitores, as pessoas. As auto-estradas constroem-se para servir as pessoas, os hospitais são privatizados para melhor servir as pessoas. Obviamente, tudo isto de uma forma teórica e o conceito de servir ou sodomizar, que cada medida carrega intrinsecamente, é muito relativa e discutível.

Vai daí, observo as novas medidas políticas para combater a crise, o défice e as contas públicas. Obviamente as mais fáceis. Combater a evasão fiscal e a economia paralela não é simples, mais fácil é aumentar o encargo sobre os que não conseguem fugir ao imposto. Assim, o IVA sobe para 21%, os fumadores pagam o défice da saúde e os automobilistas pagam as SCUTS, no preço da gasolina, substituindo as tão polémicas portagens.

Nunca fui grande Matemático. No 9º ano, tinha eu 15 anitos, fui presenteado com uma nota 1, o que me esclareceu para seguir Humanísticas. Passados 6 anos, já no 2º ano do nosso curso, vi-me à nora para fazer a cadeira de Estatística Aplicada, já que as derivadas, integrais e probabilidades não me encaixavam de forma fácil. Aliás, decorridos 8 anos de experiência profissional, ainda não vi utilidade na coisa, além do facto de saber hoje calcular a triste probabilidade de ganhar o Euromilhões, partindo do princípio que jogo. Mesmo assim, e curiosamente, considero não ter um fraco raciocínio matemático.

Senão vejamos. O IVA sobe para 21%. Contas do Governo: a receita crescerá em 2% (21-19=2). Minhas contas: adivinha-se que a subida de preços diminua o poder de compra e consequentemente as transacções comerciais; promove-se ainda mais a evasão fiscal com transacções sem factura e IVA; abrem-se escritórios em Vigo para facturar serviços efectuados em Portugal, pagando-se de IVA 16% ao Estado… espanhol! Logo, será melhor colectar 19% de 1000,00 € ou 21% de 800,00 €? Façam as contas no Excel.

Mais engraçado ainda é o exemplo do tabaco. O meu Marlboro Lights passará a custar 2,80 € ao invés dos actuais 2,55 €. Efectivamente, o tabaco é uma das grandes receitas do Estado. Dirão os mais cépticos: «Mas haverá pessoas a deixar de fumar, logo a receita…». O Governo, composto por homens inteligentes, tem isso pensado. É bom que as pessoas deixem de fumar, e economicamente pensando poupa-se nos custos da Saúde. Soberbo.
Mas eu lanço uma observação: as maleitas do tabaco, regra geral, aparecem perto da idade da reforma. Se as pessoas deixarem de fumar, viverão mais tempo. Economicamente pensando, a partir dos 65 anos as pessoas são apenas um custo para o Estado. O que se poupa na Saúde, gasta-se em dobro nos anos a mais de reforma. Faça-se ouvir, Sr. Ministro da Segurança Social.

Ass: Raul Pereira

2 Comments:

At 12:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois é Raul parece que este novo governo nos reservou algumas surpresas… a culpa é do défice.
Eu enquanto gente da área de recursos humanos e a trabalhar na administração pública o que me preocupa é o seguinte: como vou convencer os meus colaboradores a continuarem a prestar um serviço de qualidade a todos os cidadãos... e ao mesmo tempo lhes dizer que promoções? não há., progressões? não há. Os famosos direitos da Administração Pública… esses já eram.
Àqueles que continuam a dar o seu melhor, depois de 2 anos sem aumento, agora só falta mais dois meses para mudarem de escalão… verdade absoluta até há pouco tempo atrás, mas surpresa …o governo vai congelar as progressões a partir de Julho.
Como se motiva estas pessoas quando tudo é legislado e não há hipótese de recompensar um bom desempenho?
Desenganem-se os colegas que acham que os funcionários públicos não trabalham, é uma ideia completamente ultrapassada. Tenho comigo muitas competências que daqui a nada vão começar a sair pela porta fora… Como fazer com que elas fiquem? Será que alguém tem uma ideia luminosa (e legal) que possa compartilhar comigo?

 
At 6:29 da tarde, Blogger grh9599 said...

Concordo que, em alguns casos, possa existir uma imagem estereotipada falsa relativamente ao funcionalismo público. De qualquer forma, e compreendendo o conceito de direitos adquiridos, não concordo que existam direitos especiais para os trabalhadores do Estado e que exista um Código de Trabalho diferente. Isto porque se não trabalham menos, mais também não trabalham com a mesma certeza.
Se uma empresa privada dá prejuízo e não tem produtividade suficiente que a torne rentável... fecha as portas, o Estado não contribui. Se acontece o mesmo a um serviço público (que obrigatoriamente tem de existir), o resultado é o défice a aumentar e todos a pagar a factura: públicos e privados.
Por outro lado, sou assumidamente contra as promoções e evoluções de carreira automáticas. Muito menos quando não existe um sistema de avaliação de desempenho credível, aliado a objectivos definidos ambiciosos, com actuação posterior em conformidade. Defendo a recompensa e evolução pelo mérito, mas não me entra na cabeça que alguém tenha o lugar e a evolução garantida, apenas porque o relógio do tempo assim o dita.
Contudo, concordo contigo quando dizes «Como se motiva estas pessoas quando tudo é legislado e não há hipótese de recompensar um bom desempenho?». A burocracia cega tem dessas coisas...
Não sou dono da verdade absoluta nem sequer portador de uma inteligência transcendente, pelo que isto é apenas a minha opinião.
Obrigado por partilhares a tua, Claudia.

 

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